quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A APPA contribuindo para a revisão do Plano Diretor de Araras.

Da apresentação do Plano Diretor de Curitiba dia 28/01/2015, seguem considerações que a APPA - Associação de Preservação e Proteção Ambiental de Araras considera relevantes registrar.

Muito oportuna e interessante a apresentação do histórico de construção do Plano Diretor do município de Curitiba feita pelo arquiteto Miguel Roguski como parte das ações promovidas pela Prefeitura Municipal para suporte à revisão do Plano Diretor de Araras. Esta apresentação teve como objetivo difundir a experiência vivida naquele município a fim de fornecer subsídios à elaboração de um plano diretor que não seja apenas atual e contemporâneo para a nossa cidade, mas com uma firme visão de futuro.

A história, a cultura, a economia, o meio físico e a dimensão populacional são parâmetros absolutamente distintos entre as cidades; no entanto, as mensagens absorvidas durante a apresentação podem apresentar elementos por meio das quais podemos vir a edificar pilares de sustentação para a busca de uma cidade desejada. Chamou a atenção vários aspectos da apresentação. O primeiro, o ideário e a busca de uma cidade desejada em Curitiba, concebida e consolidada por decisão política que se perpetua, independente das cores politicas momentâneas.

Dos primeiros traços, desenhando a cidade em pranchetas,  citados como sendo dos anos de  1935, enriquecidos nos anos 70/80 pelas mãos do conhecido urbanista Jorge Wilheim, e a inclusão da sociedade civil como participe direta e importante, nos moldes do que se impôs pela nova ordem democrática dos anos 90,a agenda 21 e o Estatuto da cidade, vê-se outro importante aspecto, a materialização de um aprendizado nascido graças à capacidade de profissionais de áreas afins, que com absoluta certeza são  pessoas dotadas de  talento, perseverança e crença no poder do conhecimento.

Duas bases importantes que, apesar de não enfatizadas, ficaram claras na fala do orador, e que devemos ter como exemplo; precisamos de um governo sério que construa caminhos firmes na busca da cidade que podemos ter dentro do desejável ante uma evolução que não ocorreu de forma planejada, diferentemente de Curitiba, que foi buscar uma cidade desejável desde muito tempo atrás. Em outra vertente fez o palestrante lembrar as diferenças entre as cidades, observando a importância de pontuar conceitos adotados em Curitiba, adaptando-os, quando necessário e possível, à nossa realidade.

 A adoção da agenda 21 como um indicador para a busca de uma cidade desejável aproximando pessoas, seres humanos e profissionais.   A transversalidade da questão ambiental aos setores diversos encaixados em secretarias e departamentos, sem o que, a cidade deixa de ser orgânica. A aproximação do homem de classes sociais e profissões distintas, pois há interdependência que se acentua cada vez mais.  A adoção da revisão da tipologia industrial adequada para o nosso município, fazendo lembrar a rica região geográfica em que estamos inseridos quanto ao desenvolvimento da indústria da pesquisa e tecnologia, citando a excelência dos centros de Campinas – Sorocaba, e que nós devemos acrescentar Piracicaba, São Carlos e Ribeirão Preto, associada à indústria do álcool e da biomassa para geração de energia. A questão ambiental predominou absolutamente, elevando a discussão para o pico máximo, quando se destacou a questão do fracionamento do solo e a decisão a ser tomada entre a expansão territorial de um lado, ou a sua verticalização e compactação da cidade de outro, para acomodar o aumento da população na taxa de 1,5 % ao ano, vez que nossos recursos naturais se exaurem.

Após essas considerações gerais serão pontuados alguns pontos que se considera relevantes.

  1.  Um plano diretor não deve ser feito por mera formalidade para atender a uma legislação. Ao contrário, ele deve ser um documento que os governantes, atuais e futuros, devem seguir nas suas diretrizes gerais.
  2.   Um plano diretor é de alta complexidade, pois ele deve integrar todas as condicionantes sociais, econômicas e ambientais e, para tanto, ele exige um diagnóstico muito abrangente de todo o município, isto é, tanto a zona urbana como a rural.
  3. Então, para que ele não fique na gaveta, pelo contrário, que efetivamente seja um guia de governança, é preciso que se crie um Conselho ou Instituto permanente, com atuação supra-governamental para cuidar que as diretrizes estabelecidas sejam efetivamente cumpridas mesmo com as mudanças de governo a cada quatro anos.
  4.  É importante lembrar que, como dito acima, o plano não é apenas da zona urbana, viés que é muito comum, mas também deve incluir a zona rural  (aliás sempre muito esquecida). Este aspecto é muito importante para um município como Araras, onde a zona rural é geograficamente muito maior do que a zona urbana e, mais do que isso, tem uma dimensão econômica muito significativa. E, em Araras, não é apenas economicamente que a zona rural é relevante, como se justifica a seguir.É sabido que o abastecimento de água da cidade depende muito da água de suas represas, cuja água vem da chuva e dos seus ribeirões; estes, por sua vez, dependem das minas d’água. Mas a água dessas minas vem de onde? Da água das chuvas que nos solos agrícolas penetram e vão abastecer os lençóis freáticos. Portanto, não teríamos a água nas nossas represas se não fossem as terras agrícolas. Então, quando leigos criticam a agricultura eles estão muito mal informados. Então, se o plano diretor deve contemplar também a justiça social e estabelecer o pagamento por serviços ambientais, os agricultores de modo geral (e não apenas os que têm e preservam minas d´água), deveriam receber por esse relevante serviço. Antes de serem consumidores, eles são “produtores” de água.
  5.  Com relação à água, como Araras depende, em sua maior parte, dos seus ribeirões, e estudos sérios demonstram que ela será sempre escassa, nosso município não mais comporta a vinda de grandes indústrias de transformação, mesmo porque então roubariam mais áreas agrícolas. Ela deve, pelo contrário, incentivar empresas da área do conhecimento e de serviços, criando um pólo de alta tecnologia, assim demandando menos espaço e menos água.


APPA – Associação de Preservação e Proteção Ambiental de Araras.